Lembro que minha mãe sempre teve faro para saber como eu estava emocionalmente. Bastava entrar no meu quarto ou abrir meu guarda roupas. Em caso de bagunça ou desleixo, a conversa era certeira, sempre envolta de frases como: "O que está havendo? Por que você está assim? Essa bagunça física me diz muito sobre seu interior, filha. Vamos, eu te ajudo a arrumar isso aqui para você conseguir se resolver aí dentro. Com organização tudo melhora."
Impressionantemente, ela sempre acertava. Cresci com isto gravado em mim: preciso sempre organizar o que vejo para entender o que não vejo. Tratando o que tenho com cuidado, cultivando um ambiente de aconchego e paz, aonde não haja excesso de informações visuais que possam me causar desconforto. Cresci tendo claro pra mim que minha casa tem de ser meu recanto de paz. E foi minha mãe, minha maior personal organizer, que me ensinou tanto sobre coisas aparentemente tão banais.
Nesta fase de isolamento social, tenho me proposto a organizar cada cantinho que eu deixei para arrumar quando tivesse um tempo extra. E eu diria que amontoei muita coisa a espera deste tempo que, não da melhor forma, chegou.
Ontem pintei uma porta de casa com meu pai. Estava precisando de alguns reparos e há muito tempo me incomodava vê-la assim. Comprei massa de madeira, peguei uma tinta que tinha por aqui guardada e chamei meu velho. Foi aquele momento pai e filha que eu sempre quis ter na vida e que, por razões indeterminadas, não tive na infância e adolescência por termos muitos problemas de comunicação no ambiente familiar. Coisas que me marcaram por longos anos e que eu não esperava superar algum dia.
Era apenas uma porta precisando de alguns reparos. Mas por dentro, o reparo foi muito maior. O reparo foi de um elo familiar que por cerca de vinte e quatros anos tivera sido corrompido. Foi um daqueles momentos engrandecedores que eu até almeja ter, mas não considerava possível de haver um dia. Com aquelas conversas em que descobrimos o quão parecidos somos. Com aquele ar de finalmente as coisas serem como sempre deveriam ter sido. Com a união que deveria ter sido base inicial desta relação.
Meu pai é pintor, adora trabalhar com reformas e ama o que faz. Segundo ele, pintar é uma terapia. E eu sequer posso exprimir o quão gratificante foi ter este tempo juntos, pintando uma porta. Pintando também, parte importantíssima de nossa história. Enxergando um ao outro com ternura, e avincando laços de amor.
Era algo simples. Bem como arrumar o guarda roupas também é. E no decorrer das horas em que estivemos envolvidos com os reparos de uma porta, os danos causados por desavenças passadas, também foram sendo reparados.
A organização foi a forma mais marcante que minha mãe usou para me ensinar sobre como o simples é eficaz. E sobre o quão importante é estar em um ambiente arrumado, limpo e reparado. Minha mãe é de uma sabedoria inigualável e intangível. E quanto mais os anos passam, mais sentido faz a sua simplicidade e organização.
Impressionantemente, ela sempre acertava. Cresci com isto gravado em mim: preciso sempre organizar o que vejo para entender o que não vejo. Tratando o que tenho com cuidado, cultivando um ambiente de aconchego e paz, aonde não haja excesso de informações visuais que possam me causar desconforto. Cresci tendo claro pra mim que minha casa tem de ser meu recanto de paz. E foi minha mãe, minha maior personal organizer, que me ensinou tanto sobre coisas aparentemente tão banais.
Nesta fase de isolamento social, tenho me proposto a organizar cada cantinho que eu deixei para arrumar quando tivesse um tempo extra. E eu diria que amontoei muita coisa a espera deste tempo que, não da melhor forma, chegou.
Ontem pintei uma porta de casa com meu pai. Estava precisando de alguns reparos e há muito tempo me incomodava vê-la assim. Comprei massa de madeira, peguei uma tinta que tinha por aqui guardada e chamei meu velho. Foi aquele momento pai e filha que eu sempre quis ter na vida e que, por razões indeterminadas, não tive na infância e adolescência por termos muitos problemas de comunicação no ambiente familiar. Coisas que me marcaram por longos anos e que eu não esperava superar algum dia.
Era apenas uma porta precisando de alguns reparos. Mas por dentro, o reparo foi muito maior. O reparo foi de um elo familiar que por cerca de vinte e quatros anos tivera sido corrompido. Foi um daqueles momentos engrandecedores que eu até almeja ter, mas não considerava possível de haver um dia. Com aquelas conversas em que descobrimos o quão parecidos somos. Com aquele ar de finalmente as coisas serem como sempre deveriam ter sido. Com a união que deveria ter sido base inicial desta relação.
Meu pai é pintor, adora trabalhar com reformas e ama o que faz. Segundo ele, pintar é uma terapia. E eu sequer posso exprimir o quão gratificante foi ter este tempo juntos, pintando uma porta. Pintando também, parte importantíssima de nossa história. Enxergando um ao outro com ternura, e avincando laços de amor.
Era algo simples. Bem como arrumar o guarda roupas também é. E no decorrer das horas em que estivemos envolvidos com os reparos de uma porta, os danos causados por desavenças passadas, também foram sendo reparados.
A organização foi a forma mais marcante que minha mãe usou para me ensinar sobre como o simples é eficaz. E sobre o quão importante é estar em um ambiente arrumado, limpo e reparado. Minha mãe é de uma sabedoria inigualável e intangível. E quanto mais os anos passam, mais sentido faz a sua simplicidade e organização.